quinta-feira, 20 de maio de 2010

Escola do Litoral.

A Vida na Praia.
As praias estão entre os ambientes mais descaracterizados de sua formação natural. Historicamente receberam os maiores impactos, quer seja pela ganância imobiliária ou pela presença maciça do turismo de fim de semana, feriados prolongados e férias.
Por longo tempo as praias foram rota do esgoto e rejeitos urbanos, além dos conhecidos desastres ambientais. As praias estão hoje incorporadas a cultura humana o único problema é que há pouca praia para tanta gente.

Mais que uma simples faixa de areia entre mar e continente as praias são chamadas de Planícies de Acumulação, por abrigarem areias arrastadas pelas grandes correntes oceânicas. Areias pretéritas com milhões de anos lançadas nos oceanos pelo Ganges, Yan-Tsé e outros tributários menores formam ambientes importantes modelados por ventos, água e areias. Abrigam formas de vidas complexas que integram o grande circuito da ecologia.
Na praia podemos identificar três ambientes, bem definidos impostos pelo regime das marés.

Movimentos de avanço e recuo da linha d’água, maré alta e maré baixa impõem condições físico-químicas que abrigam incontáveis organismos e milhares de espécies.
Influênciada pela Lua a maré alta é marcada pela elevação do nível do oceano e pelo maior avanço da linha d’água avançando em direção à terra. Reduzindo a praia a uma estreita faixa de areia.
A maré baixa ao contrário ocorre porque há uma diminuição do nível oceânico, seguido pelo recuo da linha de maré. Estes movimentos, períodos de maré, acabam por delimitar três zonas distintas:
1.Supralitoral – é a faixa de areia que fica acima da linha de maré mais alta. Permanentemente ensolarada e seca, só umidificada pelos borrifos das ondas. Morada do caranguejo conhecido como maria-farinha e residência permanente da vegetação rasteira como capim-da-praia, cipózinho e hidrocótile e local preferido pelos banhistas para banho de sol.







Observe na foto acima a praia com vegetação nativa . Foto 1 -Arquivo - Centro de Documentação - Museu da Cidade - PDA/PG.
Foto 2 - Vila Caiçara/PG - Paulo Ferreira Dez/08.


2.Mediolitoral – zona marcada pelos dois movimentos da linha d’água e duas situações distintas. O mediolitoral durante a maré baixa é exposto à luz, calor e atmosfera, ficando totalmente encoberto na maré alta. É a região do tatuzinho-da-praia, dos moluscos popularmente conhecidos como vongole, oliva, sanguinolária e dezenas de outros, veja alguns exemplares na página 4. Faixa de alimentação de aves marinhas e zona de segurança das mães que brincam com as crianças no rasinho.







Foto 3 - Crianças brincando - acervo CEDOM-M.C.-PDA/PG . Foto 4 - Maçaricos forrageando no medilitoral, fotografia do autor.

3.Infralitoral - zona subaquática, que é delimitada pelo nível da maré mais baixa e que nunca é descoberta pela maré. Zona rica em peixes e algas.

Identificação das praias.
As praias são identificadas de acordo com seu perfil, podendo ser muito abrigada, Praia de São Vicente ou aberta, como é o caso da Praia Grande.
Dependendo da inclinação e dos acidentes de relevo da costa, maior serão as variações de correntezas e dos padrões de circulação aquática. Conseqüentemente também haverá maiores diferenças de temperatura, salinidade, turbidez, disponibilidade de alimento e abrigos contribuindo para uma diversidade e densidade biológica maior.
A diversidade• ou abundância• dos organismos das praias estão diretamente associadas à inclinação da praia, linha do continente, se simples ou acidentada e tamanho das partículas do sedimento. De um modo geral, quanto maior o grão de areia mais íngreme é a praia, menor sua diversidade. Quanto maior o grão menor o declive mais abundante será a vida local.
Praia Grande apresenta, baixa declividade e baixa granulometria dos sedimentos.

Faunistica.
A faunística praiana é caracterizada de acordo com a mobilidade de seus moradores como: residentes, visitantes e acidentais, e pelo seu porte como o caso das aves.

Arca brasiliana.


Bivalve típico de nossa praia, as vezes são encontrados na faixa do médio litoral quando são desenterrados pelo espraiar das ondas.
Coletado pela sua simplicidade e beleza, está entre aqueles que são caletatos para comercialização. Apreciados na culinária, considerados como uma iguaria e afrodizíaco.

Donax sp.


Bivalves encontradiços no mediolitoral, vivendo enterrados a pouca profundidade. Passam a vida sugando as águas circunjacentes e dela retirando oxigênio e microorganismos do plâncton.
Seus predadores naturais são peixes, aves e pescadores que os utilizam como iscas, além de moluscos gastrópodos que perfuram suas conchas e sugam seu conteúdo. É relativamente comum encontrarmos conchas com perfurações circulares, como furos feitos com brocas.

Anadara notabilis.

As anadaras fazem parte daqueles moluscos teimosos que insistem em resistir a captura e ao pisoteio maciço de banhistas, ainda conseguimos encontrar umas poucas conchas desses moluscos bivalve residentes do Litoral Médio.


Dentalium sp.

É um molusco com uma concha inconfundível pela forma similar a presa de elefante. Concha branca, com raios longitudinais e aberta nas duas extremidades. Comprimento medindo de 5 a 6 cm. Há alguns anos atrás era facilmente encontrada nas praias de São Vicente e Praia Grande. Vivem enterrados na areia, a pouca profundidade, em águas rasas, com a extremidade mais fina voltada para cima, abertura pela qual o animal respira.

Ollivancilaria urceus.

Há bem pouco tempo atrás podíamos achar e coletar muitas conchas de olivas nas praias. Por seu brilho e beleza tornavam-se irresistíveis, um suvenir obrigatório, que todo veranista acabava por levar para casa.
As olivas foram transformadas em enfeites e adornos e hoje encontrar uma concha de oliva na praia é ter muita sorte.

Olivancillaria auricularia (Lamarck, 1810).

Devido a sua abundância, facilidade de coleta, cor, beleza e brilho, as olivas foram usadas por artesões que as transformavam em colares e adornos para vestimentas.
No entanto, moluscos não são só enfeites, durante a reprodução as lesmas que vivem nestas conchas, colocam milhares de ovos. Emergindo dos ovos pequenas larvas, irão se juntar a milhões de microorganismos flutuantes - o plâncton marinho. O plâncton é como uma sopa-viva, formada por uma infinidade de microorganismos que são arrastados pelas correntezas aquáticas. Larvas de moluscos que não virarem alimento, construirão conchas que às protegerão de seus predadores.

Tellina sp.
A sanguinolaria rosada, é facilmente reconhecida por suas dimensões e coloração rosada. Enterradas nas areias do médio litoral se alimentam por um tubo, prolongação de seu corpo que recolhe da superfície a água rica em plantas e animais microscópicos.


Thais sp.


Vivem em grande número nos estuários, pastando sobre as algas que atapetam as rochas. As vezes somos surpreendidos com um inquilino, ao invés de encontrarmos uma lesma dentro da concha nos deparamos com um crustáceo. O caranguejo ermitão, paguros ou eupagurus que é um inquilino, isto é, um caranguejo que mora em uma casa que não lhe pertence, forma que encontrou para proteger seu delicado abdome, mesmo porque crustáceos não fazem conchas.

Fotografia de Paguros em concha de Thais sp.










Dosinia sp.

Bivalve pertencente à família dos venerídeos vivem nas praias arenosas enterrados a pouca profundidade, alguns tem a coloração avermelhada com brilho intenso.
As conchas são finamente sulcadas, o que confere uma aderência adequada ao animal, permitindo que ele faça seus pequenos deslocamentos sem ser arrancado pela correnteza gerada pelas ondas.


Dorsanum sp.


Este molusco já foi freqüentador de nossas praias, atualmente só são encontrados em praias preservadas.





Suvenir feito com conchas, antiga prática comum dos litorais.



















Vermes da Praia.




As poliquetas “minhocas-da-praia” pertencem ao mesmo grupo das minhocas terrestres, os anelídeos. No caso das poliquetas das praias, estas vivem em grande quantidade, enterradas em tubos e galerias que constroem. Muitas fazem seus tubos no médio litoral, onde podemos ver uma ou duas aberturas de seu tubo, por onde entra a água que será filtrada por um penacho grudento, que captura microorganismos e daí os encaminham a boca do animal.
São perseguidas por peixes e aves, seus predadores naturais, e é claro, por pescadores que as utilizam como iscas.
Algumas constroem tubos, revestidos com pequenos pedaços de conchas, folhas, areia e tudo que possam grudar, até pedaços de plástico e metais.
Normalmente crianças se assustam ao revolver as areias com seus pés e verem surgir das areias poliquetas, que são confundidas com vermes de praias poluídas. Ao contrário do que se imagina, muitas poliquetas são indicadores de equilíbrio biológico.

Equinodermos.
Encope sp

Bolacha-da-praia é uma estrela-do-mar, vive semi-enterrada na areia do infralitoral, retiram microorganismos e matéria orgânica aderida aos grãos de areia. Quando por vezes são levadas pelo movimento de correntes para fora d’água, acabando por morrer, só restando seu esqueleto calcário.
As fendas do seu corpo estão associadas à pequena mobilidade do animal. Alguns banhistas curiosos quebram as estrelas ao meio e encontrando seu aparelho bucal com formato de uma estrelinha, acabam por confundir esta estrutura com um filhotinho de estrela.


Crustáceos.
Callinectes sapidus.

O siri-azul Callinectes sapidus é considerado um predador chave na teia alimentar, controlando a diversidade, abundância e estrutura de várias comunidades bentônicas. Alimenta-se principalmente de moluscos bivalves e gastrópodes e também de organismos em decomposição.
A espécie tem ampla distribuição no Atlântico americano, encontrado desde os Estados Unidos até a Venezuela e do Rio de Janeiro até o norte da Argentina; também ocorre na Europa, onde foi introduzido em 1901, da Dinamarca até o sul da França, no leste do Mar Mediterrâneo e oeste do Mar Negro. Também é citada sua introdução no Japão.
Muitos são os crustáceos encontrados nas praias, as vezes alguns banhistas desavisados acabam tendo um encontro inesquecível, e até marcante com o nosso siri-azul.



Ocypode quadrata.
Caranguejo-fantasma, maria-farinha, siripadoca, vaza-maré, guaruçá são alguns dos nomes populares atribuídos ao Ocypode quadrada, que constroi suas tocas e galerias subterrâneas acima da linha de maré mais alta no supralitoral. Suas galerias protegidas da ação da maré-alta, mais não do pisotéio e da perseguição humana. Alimenta-se de organismos em decomposição, porém é um apreciador de ovos de tartaruga. Estudos recentes indicam que os caranguejos-fantasma são sensíveis as modificações climáticas. Intensidade dos ventos e ação das ondas como em caso de ressacas interferem diretamente em seu modo de vida. Toleram bem as temperaturas mais altas, mas temperatura inferiores a 16 graus passa a ser um fator de restrição ao seu desenvolvimento. Temperaturas mais elevadas são contornadas com as saídas ao entardecer e nos dias mais frios exploram a superfície próximo ao meio-dia. Presença humana, temperatura, vento e ressaca faz com que eles se recolham em suas tocas, encerrando as aberturas de suas galerias subterrâneas.


Tatuira.

Os indivíduos do gênero Emerita sp, são popularmente conhecidos como, Tatuíra, Tatuí ou Tatuzinho-da-praia. No Brasil o genêro Emerita está representado por duas espécies conhecidas Emerita portoricensis e Emerita brasiliensis.


As Tatuíras são todas marinhas e fazem parte da fauna que explora a região entre-marés. Organismos adaptados as duras condições de acentuadas correntes da lâmina d´água mais externa. As Tatuíras se enterram de marcha ré, sua cauda cavadora garante o rápido enterramento do animal na areia, sua longas antenas fucionam como um pente aprisionando microorganismo para sua alimentação. As fêmeas são maiores que os machos com as carapaças atingindo cerca de 3cm. Fêmeas ovígeras podem guardar até cerca de 6.000 ovos. Maçaricos e outras aves litorâneas são seus predadores naturais.



Pesquisas têm demonstrato que a compactação de praias arenosas altera as características de permeabilidade, ancoragem e penetração dos organismos residentes desse meio. Variações de temperatura alteram e até interrompem o Ciclo Reprodutivo das Tatuíras.

Ovos de tubarão.
Embora a maioria dos tubarões sejam ovoviviparos algumas raias e tubarões são ovíparos. Os embriões são protegidos dentro de pequenos envelopes retangulares com os cantos projetados, têm uma consistência coriácea. As vezes os encontramos na praia lançados pelas correntes marinhas.

Répteis.
Lagartixa-da-praia - Liolaemus occipitalis
As praias também abrigavam alguns estranhos moradores, como esse pequeno réptil popularmente conhecido como lagartixa-da-praia, tem por dieta a captura de pequenos besouros e outros insetos que vivem nas areias da praia. Infelizmente nós já sabemos as razões por não encontrarmos mais estes répteis em nossas praias.

Aves.

A Praia do Forte Itaipu/PG, por ser área militar de acesso restrito, acabou por possibilitar as aves marinhas um dos raríssimos locais de repouso.



























Gaivota-de-capuz-café.

EM CONSTRUÇÃO - EM CONSTRUÇÃO - EM CONSTRUÇÃO - EM CONSTRUÇÃO - EM CONSTRUÇÃO


Larus maculipennis, para as aves as praias são área de repouso, alimentação, e nidificação.


Trinta-reis, este é um nobre visitante e muito especial, pois realiza a maior migração do planeta. Fugindo do rigoroso inverno do hemisfério norte elas sobrevoam toda a costa oeste dos Estados Unidos, América Central, descendo as encostas Andinas, chegam em nossos litorais, onde se alimentam, descansam, nidificam e retornam ao hemisfério norte.


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Seleção Natural.
A prancha abaixo nos ajuda entender a estreita relação que existe entre presa x predador. Perceba que as aves parecem que têm o bico apropriado para alcançar sua presa específica. Esta relação levou alguns milhares de anos para acontecer.
A gravura nos permite entender que nos casos onde a densidade de aves, apesar de muito alta, não há competição pelo mesmo tipo de alimento, pois cada uma acaba buscando sua presa em locais diferentes.
Praia Grande é bastante freqüentada por aves, particularmente no Canto do Forte onde não há presença de banhistas nem o pisoteio que interfere na faunística de praia. Vale a pena fazer algumas observações sobre estes nobres visitantes.
Organize com seu professor uma aula de observação de aves, aqueles que estudam a noite também têm oportunidade de visualizar aves noturnas.



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Modelo representativo da biologia de moradores da praia.
Tudo indica que há uma convergência adaptativa nos organismos de praia. Ao que parece evolutivamente caminharam para um processo de absorção > filtragem > eliminação > de água. A adoção de uma estratégia de forçar a água cincunjascente atravessar o corpo do animal possibilita que está água carregada de microorganismos e oxigênio abasteça o animal, e ao expelir a água elimine os resíduos alimentares e o dióxido de carbono resultante de sua respiração branquial. Muitos moluscos apesar de terem uma concha que lhes confere proteção, vivem enterrados no substrato. Abrindo suas valvas projetam à superfície duas trombas designadas sifões. O sifão inalante suga a água encaminhando-a para dentro do corpo onde um sistema de brânquias revestido com cílios irá triar o que é comestível e o que deve ser eliminado através da outra tromba, o sifão exalante.

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Principio do Sifão Sistema Incurriente e Excurriente
Organismos como as poliquetas, por exemplo, constroem uma galeria na forma de “U”, e com movimentos de vai e vêm dentro do tubo, criam um sistema de corrente de fora para dentro do tubo, estas aberturas podem ser vistas na areia da praia.
Considerando que existem milhares de organismos filtradores na região do medilitoral acabamos por ter um Sistema Branquial Gigantesco. É como se tivéssemos longas lâminas vivas que estariam recolhendo microorganismos do mar e retornando material orgânico. Imagine agora se ao absorver a água esta esteja poluída o que você acha que irá acontecer a este tecido vivo?
Penso que você conhece a resposta.

Pingüins, Leões marinhos, Focas e Pedras.
As correntes marinhas as vezes arrastam visitantes do extremo sul para nossas praias, entre eles, pingüins, leões marinhos, focas, pássaros e até pedras.
Pedras-da-praia.
Resultante de as atividades vulcânicas, há o lançamento de espumas vulcânicas, púmices ou como são mais conhecidas pedra pomes, minerais aerados que se solidificam em contato com ás águas marinhas. Devido a sua baixa densidade são arrastadas pelas correntes e lançados nas praias, confundidas com as pedras de Java, usadas em vasos de plantas ornamentais, diferem pela cor e tamanho, cores variadas dependente dos minerais que às compõem assumem as colorações verdes, rosa, preta e outras.

O que os olhos não vêem?
Caminhar na praia é fascinante ficamos deslumbrados com a beleza do espaço das ondas, o horizonte marinho fazendo fronteira com o céu é poético. Mas, se atentarmos para a areia da praia vamos perceber que ela tem tons diferentes, certamente iremos concluir que é formada por materiais diferentes. Faça uma experiência: pegue amostras de diferentes tonalidades, leve para casa e examine com uma lupa de bom aumento. Você ficará surpreso com a biodiversidade de organismos, microconchas, caracóis diminutos, ramos calcários de algas e outros animais, tubinhos calcários e até microfósseis com milhares de anos. Experimente, faça.


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Organizando uma coleção de referência.

Introdução.
De um modo geral toda criança conhece a relação entre leões, zebras e hienas, e acabam por compreender a relação presa predador destes e de outros animais que não pertencem a nossa fauna.
Paradoxalmente, poucas pessoas conhecem a relação dos moluscos filtradores, ou da maior floresta invisível do planeta o Fytoplâncton e o impacto dos poluentes da vida dos organismos litorâneos. Pouco ou nenhum material existe nas escolas para trabalharmos este tema.
Fica complicado falar sobre Educação Ambiental se pouco ou nada sabemos sobre a biologia do litoral, organizar coleções nos ajuda a entender um pouco melhor o meio em que vivemos.
Objetivo:
Conhecer as formas de vida mais conspícuas de nossas praias, sua importância e papel ecológico.
Popularizar as formas de vida residentes e temporárias da praia.
Material:
Confecção de caixas para exposição dos organismos.
Organizar bibliografia pertinente.
Coletar “só” organismos mortos e suas partes, para organização da coleção na escola com acompanhamento e orientação de um docente responsável.

Confecção de Caixas Para Coleções de Referência.

Impactos.
As administrações públicas pouco puderam fazer para atender as demandas resultantes do crescimento desordenado das cidades litorâneas, lidar com o fenômeno do turismo, das concentrações religiosas, da especulação imobiliária requer além de esforços governamentais, comportamentos individuais.
O pisoteio em massa dos banhistas sobre as areias, que acaba por compactar as areias, aliado ao lançamento dos efluentes doméstico e industrial, interferem na biodiversidade praiana, a ponto de algumas espécies só existirem nas coleções dos museus, ou são mencionadas nas bibliografias de um passado recente.

Porém um dos maiores problemas que enfrentamos é o da ausência da temática “praia” nos bancos escolares. Somos ignorantes do nosso próprio habitat, conhecemos e identificamos algumas relações da fauna de outros continentes, como leões, zebras e hienas, e desconhecemos qual o papel dos bivalves e quase nada sabemos sobre a maior floresta invisível do planeta - o Fytoplâncton.
Exercer a cidadania significa apoderarmos do conhecimento que nos é vital, é hora de pensarmos em uma “Escola do Litoral”, que reconheça a vocação que lhe é nata.
Escolher conteúdos e temas é decisão pessoal do docente e expressão de seu trabalho.
































































































































Bibliografia:







Iheringia. Série Zoologia
Iheringia, Sér. Zool. vol.98 no.1 Porto Alegre Mar. 2008
Crescimento de Callinectes sapidus (Crustacea, Decapoda, Portunidae) no estuário da laguna dos Patos, RS, Brasil
Leonardo S. FerreiraI; Fernando D'IncaoII



















Distribuição e estrutura Etária de Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) (CRUSTACEA, DECAPODA, OCYPODIDAE) EM PRAIA ARENOSA DO LITORAL SUL DO BRASIL.










ALBERTO, R. M. F.1 e FONTOURA, N. F.2
Museu de Ciências e Tecnologia (MCTPUCRS); Instituto de Biociências Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/ PUCRS.
Porto Alegre, RS, Brasil - 1999.









Ecologia populacional de Emerita brasiliensisSCHIMITT, 1935 (Crustaces,Hippidae) de um trecho da praia de Itapoã, Vila Velha, Espírito Santo, Brasil.









Frederico J. Eutrópio, Fabrício S. de Sá & Hélio S. Sá.


Vida na Praia - Paulo Ferreira

Notícia do dia 30/12/2008

Por Lorena Flosi , MTB: 40.295
Museu comemora 42 anos de PG com exposição

Visitantes conferem cotidiano da Cidade no “Vida na Praia”
Autor: Alexandra Giulietti
Quem quiser ter uma noção do cotidiano de uma cidade praiana pode visitar a exposição temporária “Vida na Praia”, no Museu de Praia Grande, que integra o complexo cultural do Palácio das Artes, no Boqueirão. A partir do dia 6, a visitação estará aberta a moradores e turistas, que poderão desfrutar de um ambiente interativo com areia, baldinhos e muita diversão. Para ilustrar o cenário litorâneo, serão utilizados vídeos, apresentações, documentos, amplo acervo de conchas e outros exemplares de organismos marinhos.


A exposição fica no Museu da Cidade até o dia 28 de fevereiro e faz parte das comemorações dos 42 anos de emancipação político-administrativa de Praia Grande, que serão completados dia 19 de janeiro.

“A exposição tem como objetivo convidar à reflexão”, afirma a chefe do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura e Eventos (Secult), Mônica Solange Rodrigues e Silva. “Até que ponto vemos nossa cidade como um patrimônio? Qual o nosso grau de percepção sobre o fato de que a praia, assim como todo o ecossistema que a rege é um legado, que teremos que deixar para as próximas gerações?”, indaga.

Mônica explica que a exposição discute as relações de vida na praia de maneira abrangente. “Nem só a necessidade de proteção da vida marinha é abordada, mas toda a trajetória de desenvolvimento e urbanização das praias do Município. Do balneário, quase deserto das décadas de 20, passando pelo turismo desordenado dos anos 80 e pela urbanização nos idos de 90, nosso objetivo é buscar a reflexão sobre as conseqüências das transformações neste espaço, e qual nosso papel no futuro”.

Agregada à exposição de longa duração, que não deixará o museu, a mostra usa elementos visuais para ambientar os visitantes. Já na entrada do museu, uma instalação onde um tanque de areia com baldinhos, conchas, pipas, redes de pesca e até uma talamanca - espécie de flutuante muito usado para pesca - convida quem chega a um verdadeiro mergulho na história da relação humana com a praia.

Nos terminais de computador, imagens atuais e antigas mostram o mesmo espaço em outras temporalidades, abordando assuntos como pesca, turismo e ecossistema, além de uma apresentação interativa sobre a história da formação de uma praia, com controles manipuláveis.

O estande de história oral, equipado com televisores e fones de ouvido, traz imagens caseiras da década de 40, onde uma família se diverte nas areias do Município. Em uma mesa expositiva temática, além de conchas e outros organismos originários de Praia Grande, documentos textuais e iconográficos contam o trajeto de desenvolvimento do turismo no Município, uma reportagem de 1975 falando da polêmica das cabinas para turistas. Muito usadas até os anos 60 para que os visitantes pudessem trocar de roupa, as cabinas eram consideradas símbolo da falta de estrutura nos anos 70.

Mônica explica que a mostra foi pensada de acordo com a vocação do Museu da Cidade, que é mostrar a história como algo construído por todos. “Nesta exposição específica, buscamos a identificação entre turistas e moradores com o espaço litorâneo, não só como um ambiente de diversão e lazer, mas como uma extensão de nosso patrimônio. A reflexão principal é: qual a nossa responsabilidade sobre o futuro deste espaço? O que podemos fazer para entregá-lo às futuras gerações melhor do que encontramos?”

O Museu da Cidade é parte do complexo cultural Palácio das Artes, na Avenida Presidente Costa e Silva, nº 1.600. A visitação é gratuita, e pode ser feita de terça a sábado, das 14 às 18 horas. Outras informações pelo telefone 3496-5706.

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Uma história de homens e conchas.

Moluscos.
Uma História de Homens e Conchas.


prof.Paulo Ferreira

O termo “molusca” de origem latina foi empregado pela primeira vez pelo zoólogo francês Cuvier em 1798 ao descrever suas observações sobre polvos e lulas. O nome fazia referência à aparência ao corpo mole e macio daqueles animais. Mais tarde com o aprofundamento dos estudos foi que se reconheceu a relação de parentesco entre lulas e polvos com caracóis e bivalves, animais aparentemente bem diferentes.
A beira-mar os caracóis e bivalves eram tão abundantes que após a morte, suas conchas acumuladas, cobriam longos trechos da orla, atapetando parte ou totalmente as areias.
Em muitas praias do nosso litoral não se conseguia ver as areias, caminhava-se quilômetros sobre tapetes multicoloridos de conchas e caramujos que naturalmente ornavam as praias.
Não faz muito tempo também, que os veranistas praiagrandenses podiam escolher algumas entre uma infinidade de conchas e caracóis, pequenas jóias do mar, preciosas lembranças de nossa terra.











Fotografia de uma praia que ainda conserva uma cobertura natural de conchas e sedimentos calcáreo.


Na zoologia os moluscos foram reunidos em um grande grupo conhecido como Filo Mollusca. É o segundo maior e mais diverso grupo de organismos do planeta e o principal especialista na exploração de águas oceânicas, embora esteja bem representado nos ambientes terrestres.
Numericamente até o momento já foram catalogados 75 mil espécies viventes e 35 mil fósseis. A capacidade de abrigar seu corpo macio numa sólida concha calcária permitia a fuga dos seus predadores naturais e a rigidez das conchas favoreceu a fossilização de um número expressivo de moluscos nos desastres geológicos de soterramento da Terra Primitiva.
No Registro Fóssil partes rígidas como: conchas, ossos e dentes preservam-se com certa facilidade. Diferente das partes moles ou mesmo organismos inteiros como invertebrados que apodrecem sem se fossilizar.
Os moluscos estão entre os maiores e mais bem representados grupos fósseis, nos dando a possibilidade de compreender a vida nos mares pretéritos.
Assim como podíamos caminhar sobre praias cobertas por conchas num passado recente, algo semelhante acontecia num passado remoto. Essa experiência pode ser repetida se visitarmos uma das muitas pedreiras de calcário no interior de Sergipe. Lá caminhamos por uma grande quantidade de conchas fossilizadas. Seres que viveram e morreram há milhões de anos sobre o fundo do recém aberto Atlântico Sul onde hoje encontramos animais e suas partes petrificadas em extensas camadas que registram um tempo geológico.
Antes da quebra e separação de dois gigantes continentais Brasil e África o Nordeste brasileiro e parte da África acomodavam-se em uma extensa depressão dando origem a uma bacia hoje chamada de Depressão Afro-brasileira. Essa região guarda um dos mais ricos depósitos fósseis do país. A concentração e diversidade fóssil é tão expressiva que culminou com a criação do Geopark pela UNESCO que certamente estará dando a merecida divulgação para a Arqueologia Brasileira, já reconhecida pela comunidade científica internacional.

O Brasil todo apresenta registros da vida primitiva de milhões de anos, as primeiras pesquisas por aqui começaram por volta de 1900. Naquela época não existiam pesquisadores brasileiros e as investigações eram conduzidas por estrangeiros.
Nem todos simpatizam com a atitude de estudos arqueológicos feitos principalmente por europeus, mas ao menos nessa área, se fosse diferente, não teríamos o conhecimento que temos hoje. Parte do acervo que foi retido no exterior para estudo, hoje podem ser acolhido por nossas instituições.










Cenário construído a partir de fósseis que viveram nos mares primitivos. (Diorama retratando o período Ordovinciano - Redepath - Museum - Montreal - Canadá.


A Colonização das Américas e os Moluscos.
Os primeiros grupos colonizadores das Américas usaram a planície costeira como corredor para ocupação de novas terras. A estratégia usada para fazer seus assentamentos era a de encontrar locais onde tivessem assegurados: água doce e disponibilidade de ostras, mariscos e berbigões, recurso exigido para o sustento imediato e diário do grupo, além da segurança e conforto. Enquanto durasse a pesca e o estoque alimentar de moluscos, os grupos se mantinham temporariamente no local, vivendo e complementando sua dieta com os recursos naturais disponíveis no ambiente recém colonizado.
Uma “prática comum” dos colonizadores era o descarte de conchas e restos das refeições diárias em um mesmo lugar, com o tempo, acumulavam-se em montes, morrotes, colinas artificiais de conchas. Um mirante, uma praça de convívio que lhes garantiam segurança e visibilidade na planície costeira.
Alguns indivíduos após a morte eram deitados e arranjados em uma cova aberta no monte de conchas. As colinas de conchas era lugar de descarte de restos alimentares, onde se acendiam fogueiras para cozinhar moluscos, caranguejos, assar peixe e caça. Aparentemente sepulcro de uns poucos escolhidos.
Os mortos recebiam cuidados de um funeral o corpo ajeitado em posição fetal era pintado com ocre, enfeitado com adornos elaborados, colares de dentes ou ossos de animais. Junto ao corpo, machados, colares, enfeites, esculturas de pedras e prováveis pertences do morto marcam indícios de sepultamentos ritualizados.









Machado Sambaqui/Itariri 4.000 A.P. - Dentes de mamíferos utilizados como colar/Acervo MAE-USP/SP.


Na região sul os Sambaquis são maiores que os outros e parecem ter sido em sua maioria exclusivamente funerários.
Zoólitos como acompanhamento do enterramento expressam uma arte elaborada e a prática de cerimônias funerais, traços de sociedades complexas.
Colares e enfeites com uso de fibras transpassando sementes de vegetais, plumas, cestos de palha e objetos de madeira, certamente fizeram parte do cotidiano dessas populações. No entanto materiais de origem orgânica são friáveis, apodrecem com facilidade em contrapartida, ossos, dentes e conchas suportam melhor a ação do tempo e podem nos dar boas pistas para interpretarmos o que provavelmente ocorreu naquele lugar.
Polens de flores dispersos pelos ventos assentam-se no solo e resistindo as agressões climáticas são preservados em aterros antigos. A análise polínica de um aterramento ou de uma camada no solo nos permite conhecer que tipo de vegetação estava em floração, qual a estação do ano e que tipo de paisagem era predominante no local.

Sambaqui, concheiro e casqueiro.
Acreditamos que parte da cultura material do Homem do Litoral foi incorporada pelos indígenas, povos que os sucederam posteriormente.
Morros e colinas artificiais de conchas resultantes das atividades do homem pré-histórico são encontrados na zona costeira de todo mundo e no interior se encontram na beira de lagos e rios, montes de conchas de moluscos de água doce.
Os pioneiros no estudo desses Sítios Arqueológicos foram dinamarqueses que deram início as investigações científicas na segunda metade do século XIX, batizando-os de Køkkenmodding e a principio interpretados como resíduos da cozinha dos povos nômades, caçadores-coletores.
Shell mound dos americanos, shell midden dos australianos, Concheiro em Portugal e Sambaqui no Brasil, nomes diferentes para as mesmas construções erguidas nas bordas continentais fronteiriça ao mar.
Centenas de Sambaquis que sobreviveram a destruição se espalham pelos litorais do Brasil com uma significativa concentração em Cananéia/SP e Santa Catarina, as vezes parte ou totalmente dentro d’água. Embora as condições climáticas litorâneas não favoreçam a preservação de materiais, os estudos têm comprovado que esses homens eram pescadores habilidosos e faziam uso de canoas, do arco e flecha, de cestas e outros objetos que apodrecem com facilidade e que seguramente eram peças importantes na rotina do Homem do Sambaqui.












Fotografia feita por ocasião da decapagem do Sambaqui do mar-casado - Guarujá/SP.

O domínio da caça, da pesca e da exploração dos estoques de ostras, mariscos e berbigões dos manguezais, permitiram o avanço e a primeira ocupação do nosso país há pelo menos sete mil e quinhentos anos antes do presente, como atesta o mais antigo e recém descoberto Sambaqui do Monte Cabrão em Bertioga.
O conhecimento acumulado até o momento nos permite afirmar que as populações construtoras de sambaquis, foram pescadores e sedentários com parâmetros demográficos relativamente altos e com padrões complexos de organização sócio-culturais.
Não se sabe qual a razão para a interrupção da construção dos Sambaquis e o desaparecimento desses homens, e de sua cultura. Seus instrumentos, objetos e ferramentas remanescentes acompanharam poucos corpos sepultados sobre pirâmides de conchas.
Há uma tendência em se considerar que talvez tenham sido dizimados pelos ameríndios, mais habilidosos e recém chegados nessa terra.

Colonização Européia.
Um dos primeiro registros de prospecção européia contou com oito naus sob o comando de Duarte Pacheco Pereira que esquadrinhou os litorais dos atuais estados de Pará e Maranhão em dezembro de 1498. O resultado dessas expedições mantido longe da curiosidade dos espanhóis garantiu êxito de Pedro Alvares Gouveia descrito por Pero Vaz de Caminha na Carta do Achamento da Ilha de Vera Cruz, Santa Cruz, Brasil.
O Bacharel Mestre Cosme Fernandes, conhecido como Bacharel de Cananéia, judeu degradado, organizava em 1512 à então Feitoria de São Vicente, local que seria estabelecida a Vila de São Vicente.
Quando em 1532 Ana Pimentel determina a organização os engenhos de açúcar e desenvolver a cultura canavieira na então Capitania de São Vicente e nela Praia Grande, estabelece núcleos de colonização em São Vicente, Itanhaem e Peruíbe, introduzindo como prática portuguesa a construção de edificações com uso de pedras. O elemento cimentante era feito com a trituração de conchas misturadas com açúcar mascavo e óleo de baleia, daí o termo português “caieiras”.
Infelizmente essa técnica marcou o início da destruição sistemática dos Sítios Arqueológicos no Brasil, que viam nos Sambaquis uma fonte de cal e os tratavam equivocadamente como cemitério indígena.








Edificações feitas com a técnica de maceração de conchas como meio cimentante/Ruinas de Peruibe - Foto Paulo Ferreira/Mai/09.


















Fotografia de um crâneo de um Sambaqui/Acervo - MAE-USP/SP - Foto Paulo Ferreira-Jan/88.

A ilha de São Vicente, situada na província de S.Paulo, tem de 3 a 4 legoas de longo. He notável pelas collinas chamadas de ostreiras formadas de cascas de ostras, de que se faz cal.- Constancio,F.S.-1839.


A Pré-História virando pó.
As conchas das praias, incluindo os Sítios Arqueológicos na época da colonização eram consideradas como uma fonte de calcário, matéria prima disponível para exploração imediata.
Sambaquis foram espalhados e compactados sobre as ruas dos vilarejos como pavimento calcário. Queimados em fornos, moídos e misturados com açúcar mascavo e óleo de baleia, era a cal cimentante, obrigatória na construção das primeiras edificações de alvenaria. Estaleiros, fortificações, capelas, cadeia pública, engenho de açúcar, casa-grande, senzala, faróis e todo tipo de construção civil e militar em alvenaria no período colonial, tinham como prática o uso de pedra sobre pedra com a massa calcária. Conchas reduzidas a calcário em pó serviram como elemento para neutralizar a acidez dos solos na agricultura e na pecuária acrescentados como mineral para enriquecimento de ração.
Sítios arqueológicos de extrema importância para a preservação da nossa memória foram totalmente destruídos.









Parte de uma litogravura indicando sambaquis na Baixada Santista/Publ.Mus.Paulista - 1904.


Os poucos Sambaquis que restam aguardam as migalhas das verbas governamentais destinadas às pesquisas arqueológicas e o incremento dos Departamentos de Arqueologia das Universidades Públicas.
Arqueologia Brasileira é tema ausente dos livros didáticos e completamente descartada quando se induz os educandos a incorporar a colonização cabralina, ignorando toda pré-história.
Quando na mídia celebra-se “Brasil 500 Anos” não se exclui só 8mil anos de Sambaquis, mas o maior banco de pinturas rupestres do mundo, situado no Parque Nacional da Serra da Capivara/SE com evidências da presença do homem há 100 mil anos AP, com investigações e descobertas consolidadas e mundialmente respeitadas pela comunidade científica.
Os estudos prosseguem com novas surpresas, a última passou despercebida pelo olhar atento de muitos pesquisadores e que só agora foram descobertas: pequenas pinturas rupestres, as menores do mundo, uma novidade ainda a ser entendida.
O Parque Nacional da Serra do Capivari abriga 600 sítios de pinturas rupestres e reconhecidos pela UNESCO como patrimônio da humanidade.

Moluscos, poluição e poder.
A púrpura real é um pigmento roxo extraído de glândulas de moluscos e que no passado foi usado exclusivamente como a “cor da família real”. Mencionada em textos que datam de 1600 anos antes do presente, descrevem que o tingimento de vestes era uma das principais atividades de manufatura organizada que mobilizavam fenícios e romanos de Cartagena.
A combinação: cor e a seda se transformaram num comércio de luxo. As togas dos imperadores romanos eram tingidas com a púrpura imperial, a técnica de tingimento usava a extração de pigmento do caramujo Murex sp. O método de obtenção do pigmento consistia em extrair uma grande quantidade de glândulas dos moluscos que eram aferventadas com cinzas. Posteriormente se tingia os tecidos e os estendiam ao Sol finalizando o processo. O resultado era uma cor púrpura única de extrema beleza.
Grandes quantidades desses caramujos eram sacrificadas, suas conchas e seus restos se acumulavam aos montes. A cor púrpura tornou-se símbolo de riqueza e poder para romanos e fenícios. Nero puniu com a morte o uso da púrpura e Cleópatra tinha as velas de sua embarcação tingidas com a púrpura real.
Escavações revelaram casas decoradas com afrescos com uso da púrpura um documento escrito em 1400 AP inclui 70 fórmulas para tingimento de lã, a maioria com uso do roxo de murex. O documento ainda descreve um tintureiro:- “...suas mãos fedem, ele tem cheiro de peixe apodrecido...”



Por outro lado é a primeira vez que se tem o registro de queixas com relação ao odor fétido que emanava dos montões de moluscos eviscerados em estado de putrefação que apodreciam a céu aberto, visitados por toda sorte de insetos necrófagos.



Na sua obra Constancio, F.S. - Geographyca publicada em 1839 na pág. 57 descrevendo Animaes:
Crustaceos.Na ilha de São Vicente há ostras de grandeza enorme, cujas cascas servem de pratos. Há também outras pequenas que se pegão ás arvore. M.Mawe achou nas bordas da bahia dos Ganchos cascas do gênero Murex que dá a bella cor escarlate ou purpurina dos antigos.







Um fim de Semana em Praia Grande.
Férias de verão, feriados prolongados e fins de semana sempre foram motivos de descanso, lazer e busca dos recantos mais aprazíveis que a natureza nos oferece.
A história de Praia Grande é igual à de muitas praias próximas aos grandes centros urbanos de acesso fácil, rápido e barato.
Festas religiosas ou até mesmo um fim de semana eram suficientes para levar multidões aos municípios litorâneos que não tinham infra-estrutura para receber tantas pessoas.
O acesso a Praia Grande se fazia através do único caminho possível à Ponte Pênsil. A fila de espera chegava às vezes a seis ou até oito horas de congestionamento em São Vicente e Praia Grande e nada disso desanimava os turistas de fim de semana.












Praia da Ociam - 1976
Fotografia e reportagem do Acervo do Centro de Documentação Histórica-Mus.Cid. - PDA/PG



As manchetes de jornais davam à tônica dos problemas enfrentados por Praia Grande: praias transformadas em rodovias, estacionamentos e acampamentos recebiam multidões de turistas.
A falta de sensibilidade, o atraso de uma consciência ambiental impedia que as pessoas enxergassem o lento e contínuo processo de degradação do seu maior atrativo: as praias.

Vegetação de Praia.
A primeira mudança que se percebe nas praias com a presença freqüente de pessoas, é o desaparecimento da cobertura vegetal.
A diversidade da vegetação de praia é baixa, poucas espécies toleram solos áridos, salinos, suportando extremos de temperatura, luz, ventos constantes, chuvas e a inundação das marés.
As plantas da praia são consideradas como “pioneiras”, termo biológico para designar organismos colonizadores, os primeiros a ocupar um ambiente e que acabam por preparar o ambiente para sucessão de novos organismos.
Exatamente por essas razões deveriam ser poupadas da extração e do pisoteio.











Praia da Fortaleza do Itaipu/Foto Prof.Paulo Ferreira.


Uma das exigências dos banhistas e freqüentadores das praias é a extração das plantas e limpeza das areias. Trabalho esse mantido pelas prefeituras que além de recolher toneladas de lixo deixados pelos turistas recolhem também elementos naturais que pertencem a paisagem praial.
A retirada da vegetação nativa das praias é o inicio da descaracterização desse ambiente.
No Brasil alguns municípios brasileiros já adotaram os projetos de recuperação de praias com o replantio de mudas . A cobertura vegetal na praia é muito importante não só como elemento de estabilidade ecológica, mas também está associada a movimentação das areias e formação de dunas.
Um fim de semana em Praia Grande - Praia da Ociam - Acervo CEDOM-Mus.Cid. - PDA/PG




Bibliografia:

Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
02/12/2005

Arqueologia Brasileira
André Prous
UnB
1992

Arte Pré-Histórica do Brasil
Andre Prous
Coleção Didática
2007

Brasil Rupestre
Arte Pré-Histórica Brasileira
MARCOS JORGE & ANDRE PROUS & LOREDANA RIBEIRO
Zecrane Livros
2007

Considerações sobre o papel dos sambaquis como indicadores do nível do mar. On the role of shell mounds as paleo-sea-level indicators
Rita Sheel Yebert; Marisa Coutinho Afonso; Márcia Barbosa-Guimarães; Maria Dulce Gaspar; Jean-Pierre Yebert.
Museu Nacional, UFRJ, Museu de Arqueologia e Etnologia, USP

Historia do Brasil, desde seu descobrimento até à abdicação de D.Pedro I.,
Francisco Solano Constancio,
Com hum Mappa do Brasil
Tomo I
Paris, na livraria portugueza
De J.P. Aillaud ,
Quai voltaire, No. 11
1839

Ighth Millennium Pottery from a Prehistocic Shell Midden in the Brazillian Amazon.
A.C.ROOSEVELT, R.A.HOUSLEY,M.IMAZIO DA SILVEIRA, S. MARANCA, and R.JOHNSON.
Science 13/Dec/1991 254:1621-1624 [DOI:10.1126/Science.254.5038.1621] (in articles)

O Brasil antes dos brasileiros: A Pré-História de Nosso País.
André Prous
ZAHAR
Jorge Zaha Editor
2006

O passado da floresta amazônica
Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
07/09/2007

Um momento de crise no planeta
Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
05/01/2007

Zoologia dos Ivertebrados
Ruppert, Fox e Barnes
7ª Edição
Editora Roca


Zoologia Geral
Tracy I Storer e Robert L. Usinger
Editora Universidade de São Paulo – 1978


Ciência Hoje On-line:
http://cienciahoje.uol.com.br/
Sem recursos e sem solução.
Arqueóloga denuncia descaso do governo com Parque da Serra da Capivara e ameaça deixar o país.
Carla Almeida e Vivan Teixeira
Jornal da Ciência E-mail
20/07/2006
http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2006/sem-recursos-e-sem-solucao/

Science
Archeology: First Americans: Not Mammoth Hunters, But Forest Dwellers?
Ann Gibbons
19/Apr/1996 272:346-347 DOI:10,1126/Sciencie.272.5260.346 (In News)
The Archeological Study of Shell Middens
What are Shell Middens
K.Kris Hirst
Abouth.com.:Archeology
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http://www.conchasbrasil.org.br/